04 abril 2008

Ideologia, a outra coisa!

Após o grande spam que fiz sobre cultura, senti necessidade de fazer um certo seguimento e resolvi colocar algo sobre ideologia, afinal estes dois conceitos estão ligados. Devo já dizer que, mais uma vez, inspirei-me no mágnifico e um bocado confuso Sr. Clifford Geertz. Aconselho, vivamente, a quem tem tempo e está numa de aprender qualquer coisa, a ler os seus ensaios.

Falemos de ideologia em relação a uma cultura dominante e, depois, liguemos o ideológico a questões de sexo, raça e etnicidade.
Antes de mais, o próprio termo “ideologia”, segundo Clifford Geertz, tornou-se ideológico enquanto que para Sartre, o termo “ideológico” restringia-se a “engagé”, ou seja, a ideologia como factor político.
Algo torna-se ideológico quando está ligado a uma dada ideologia. Por exemplo, um discurso torna-se ideológico porque este pratica uma ideologia. Geertz acredita não só na falsa oposição entre o estético e o político, afirmando que ambos são de representação simbólica como também na ideologia de forma a contrariar a ideia de que a cultura primitiva e a cultura civilizada são opostas.

Podemos tomar como cultura dominante os Estados Unidos da América. Reparamos que a cultura americana é profundamente ideológica, em vez de a sua ideologia ser política, a sua política é ideológica, talvez porque foram vistos como uma utopia e uma segunda oportunidade para muitos, afinal, os Estados Unidos da América são considerados como a terra da oportunidade. Essa mesma oportunidade e a ideologia fundiram-se numa cultura baseada em sistemas de representação simbólicas.
E então, até que ponto podemos afirmar que o quotidiano proporciona o exercício ideológico? Quanto à questão do sexo, da raça e da etnicidade; o sexo é ideológico na medida em que foi e é a ideologia que nos faz estabelecer os papéis de cada género sexual. É a ideologia que fornece a ideia de que, por exemplo, o homem é superior à mulher. A raça é um instrumento para identificação cultural. Hoje em dia, os Estados Unidos da América são os que mais usam este termo para a distinção entre a sua população. É através do ideológico que dividimos os povos em vários tipos de raças, permitindo-nos uma identificação facilitada e uma rápida ligação entre o indivíduo e a sua cultura. A etnicidade é a divisão da sociedade em grupos através de características comuns. A identidade étnica de um grupo de indivíduos é caracterizada pela sua estrutura física, pelos seus nomes, e todo um conjunto de factores ligados directamente ao ideológico. Por exemplo, é através da ideologia criada à volta dos ciganos que nos permite distinguí-los como um grupo étnico específico.
A ideologia existe em tudo. O nosso mundo move-se com base em ideologias. Comer com talheres, vestir, etc são exercícios ideológicos. O nosso dia-a-dia é a reprodução de uma ideologia. É a ideologia que determina a posição de um indivíduo na sociedade. É a ideologia que define a própria sociedade. Creio que posso afirmar que o nosso quotidiano é um exercício ideológico. Mas há que ter cuidado com esta afirmação. O nosso quotidiano está sempre em movimento, logo estamos sempre a experiênciar novidades que nos alteram. Mesmo tendo consciência de que algumas ideologias mantêm-se de geração em geração, há sempre algo que as altera, até porque segundo o ditado, quem conta um conto, acrescenta um ponto, ou seja, a ideologia não se mantém estática, ao longo do tempo também se vai alterando. A ideologia, a meu ver, é algo que se vai alterando consoante as nossas vivências, a nossa aquisição de conhecimento, o nosso convívio. Portanto, a ideologia está sempre em constante mutação. A ideologia é um fenómeno social e cultural. Desde o momento em que nascemos até à data da nossa morte somos afectados pela ideologia, é algo que se funde connosco involuntáriamente. A ideologia faz parte de nós.



(Agradeço a atenção e a paciencia por me leres até ao fim).

Nota: Eu gosto de falar destas coisas chatas!

1 comentário:

Fraga disse...

Eu concordo com o que dizes. O que as pessoas consideram "normal" e "quotidiano" são as ideologias da sua cultura. Basicamente, alguns tentam não se comportarem de acordo com a sua ideologia 'nativa', e conseguem, pois acreditam que outra ideologia é melhor, ou tentam criar a própria. Na verdade, a ideologia só serve para o exterior. raças e sexos (sexos, apenas nas mentalidades de alguns), penso que te esqueceste de mencionar que indivíduos considerados "comuns" de uma certa ideologia podem pertencer a outra totalmente diferente. so isso, pq quem leu o texto até ao fim apercebe-se que está fantástico.